Depois de meses de vontade contida e de dias e noites com memórias vindo em minha cabeça, decidi encarar a bronca e ouvir de novo a minha música. Não digo "nossa música" porque essa era minha mesmo, e não dele. Era o som que tocava no meu celular quando ele me ligava e que eu tanto amava ouvir, assim como ele dizendo "alou" naquele tom de humor que sua voz sempre teve. Se ele, hoje, ouvir o som doce do piano, na introdução, garanto que não terá memória nenhuma trazida pela canção.
Já faz quase um ano. O que fazíamos há exatamente 365 dias não me lembro mais, mas sei que estávamos começando a nos estranhar, para que não fôssemos mais namorados desde o último carnaval.
Hoje, (quase) um ano depois do fim, e meses depois da última vez que o vi e que nos falamos, lá está ele: de casamento marcado, muito feliz e provavelmente sorrindo como criança a cada presente recebido e aberto: uma batedeira, um jogo de cama, um conjunto de toalhas com seu nome em uma e o de sua esposa em outra. (...)
Há meses eu já tinha coragem de dizer: "esqueci", "passou", "já não o amo mais faz tempo"; e tinha até mesmo a frieza (ou, talvez, aquela mágoa "seca", há tanto guardada) necessária para dizer: "ele nunca me amou, e só fez me enganar". Assim, eu seguia em frente, feliz, com a (quase) certeza de que sempre estive melhor sozinha e ele nunca me trouxe nada além de uma felicidade despertada com mentiras e do sofrimento decorrente da descoberta da ilusão.
Assim passou o tempo e assim (re)construí minha vida de solteira, tão boa como sempre fora antes.
Mas, como ladrão que fica à espreita, observando e esperando o momento de invadir para roubar, lá vem ela, chegando um pouquinho mais perto a cada dia para me atormentar: a lembrança de tudo, trazendo a saudade e o arrependimento por não ter lutado mais do que lutei (pois, sim, reconheço que eu podia ter feito mais, se já não tivesse sido magoada e não tivesse tanto medo de que ele não valesse a pena, porque nunca antes eu havia experimentado essa dúvida).
Os sentimentos chegaram direto do (in)consciente, como uma quadrilha armada que te pega sem proteção, e BUM!: Quando percebi, estava relembrando de novo nossos melhores momentos, as brigas e reconciliações, as brincadeiras (e como um fazia o outro rir), e, pior: perguntando aos amigos em comum se é verdade que ele vai mesmo casar.
Sim, é verdade. Em menos de 6 meses, sua namorada conseguiu que ele mantivesse sua palavra e realmente se casasse. E, em meio a essa revelação, às lembranças misturadas com saudade, arrependimento e curiosidade, quando dei por mim, lá estava eu, voltando de uma viagem para o litoral, passando por São Paulo toda iluminada, e ouvindo "Dreaming With a Broken Heart" numa tentativa de matar a saudade, nem que fosse apenas durante o tempo da música.
4 minutos pareceram ter durado os meses de namoro mais o nosso tempo separados até aquele momento, e o resultado da soma foi a consciência real de que a letra dessa música só fez sentido de verdade a partir do momento em que nos separamos e que, hoje, pelo menos, ela pode fazer sentido para sempre.
Como diz uma amiga minha que terminou um relacionamento há pouco, é egoísmo nosso querer nosso amor de volta quando ele está tão bem sem nós.
Se é consciente ou inconsciente, se o sentimento acabou ou apenas adormeceu, vencido pelo cansaço de sentir, acho que nunca vou saber distinguir. Mas que aquela introdução vai para sempre ser o som de uma ligação sempre tão esperada (e, a partir de agora, nunca mais recebida), não preciso nem pensar para saber e sentir que sim.
Ele hoje está feliz, e eu também estou, pois enxergo tudo que tenho de bom mesmo sem ele. Somos felizes separados, cada um com suas razões para sê-lo. Porque juntos tínhamos tanto medo, desconfiança no futuro e na força do outro que até os corações decidiram que, separados, a dor seria menor.
(Quem amou mais ou quem amou menos já não importa mais. Quem teve uma história digna de Romeu e Julieta, com encontros escondidos no auge da paixão, declarações sinceras e momentos de paz verdadeira quando se encontrava com seu amor, entende que nem sempre a gente escuta o coração por medo de se machucar mais ainda, então prefere sonhar com o coração partido...)
"Quando você está sonhando com o coração partido
Acordar é a parte mais difícil
Você rola para fora da cama e se ajoelha
E, por um momento, você mal consegue respirar
Imaginando "Ele esteve mesmo aqui?
Ele está parado em meu quarto?"
Não, ele não está
Porque ele foi embora
Quando você está sonhando com o coração partido
Desistir é a parte mais difícil
Ele te puxa com seus olhos chorosos
Então, de uma vez por todas, você precisa dizer adeus
Imaginando "Você pode ficar, meu amor?
Você vai acordar do meu lado?"
Não, ele não pode
Porque ele foi embora
Preciso adormecer com rosas nas minhas mãos?
Você viria buscá-las se eu assim fizesse?
Não, você não viria
Porque você foi embora
Quando você está sonhando com o coração partido
Acordar é a parte mais difícil"
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